quinta-feira, setembro 23, 2004

OS "CHACAIS" Ao longo destes anos de vida académica, tenho assistido a cenas verdadeiramente tristes, especialmente na época das praxes. Não, estimado leitor, isto não é um qualquer manifesto anti-praxe; quero apenas falar da chacalidade – perdoem-me o neologismo - de certos praxantes.

Acredito que, tal como em tudo na vida, na Praxe deve existir bom senso, sentido de humor e bom gosto. Se estas três qualidades existissem na correcta medida, a imagem da Praxe seria hoje bem melhor. Além disso, será de esperar que os "praxantes" pretendam realmente integrar os novos alunos, o que nem sempre acontece. Com efeito, muitos se movem por segundas intenções... ora é desses "chacais" que pretendo falar.

Para muitos, o ano em que se “praxa” é o auge da popularidade na universidade, e também aquele em que mais se “engata”. E as caloiras, completamente desenraizadas e não raras vezes desorientadas, tornam-se um alvo fácil para estes pseudo-predadores sexuais.

Tenho visto doutores que descaradamente se aproveitam da ingenuidade das caloiras; conheço outros que, com mil e uma simpatias e sorrisos, temperados com oportunas ajudas e boleias, tentam “engatar” as novas alunas; e sei ainda de alguns que, sob a inócua designação de “padrinho”, procuram dar à palavra “afilhada” um novo significado. Acho deprimente esta mentalidade de “tudo o que vem à rede é peixe”, e que “as nossas caloiras são só para nós”.

Consideram-nas uma coutada privada, ficando muito indignados quando elas se envolvem com alunos de outros cursos, ou começam a formar o seu próprio grupo de amigos, já livres das pressões da praxe. Esquecem-se estes “doutores” que a Praxe serve para integrar as pessoas na Academia e não apenas nos seus cursos. Do mesmo modo, a Praxe não serve para os proselitismos mesquinhos que certos "grupinhos" tanto gostam de fazer.

No entanto, não sou contra as relações íntimas entre doutores(as) e caloiras(os), nem sou moralista ou ingénuo a ponto de pensar que as caloiras se deixam “levar” por serem “inocentes”, ou que por sua vez não se aproveitam dos “doutores”. Mas considero deprimente que, para alguns “doutores” e “engenheiros” - geralmente, aqueles que não têm grande vivência académica -, a praxe seja a única oportunidade de “engatar” raparigas.

Como chacais esfomeados, lançam-se sobre a “carne fresca” que entra na Universidade, desvirtuando o propósito da Praxe e prejudicando a integração dos novos alunos.

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